sábado, 9 de abril de 2011

A importância da escola para a construção cultural e social - A escola, a música e eu.

Lembro como se fosse hoje. Atrás de uma cortina vermelha, esperávamos ansiosos para a nossa entrada num palco improvisado no pátio da escola. Uma dupla de hip-hop que acabará de se apresentar havia deixado o público presente eufórico. Segurando fortemente o contra-baixo olhei assustado para  Juliano, meu colega de sala, que sequencialmente repetiu o olhar para Fabiano, baterista, que movimentou a  cabeça dando um sinal de negativo, movimento assustador para aquele momento, movimento que confirmava a ausência do nosso vocalista. Mas era tarde. Aproveitando a empolgação dos alunos , o diretor, apresentador da gincana escolar, dando ênfase a cada palavra proferida no microfone, começou a chamar nossos nomes.
Cursei todo o Ensino Fundamental (ciclo II) na escola ao qual trabalho atualmente, a escola Plácido. Sempre gostei de fazer parte da turma do fundo, que ao contrário dos dias de hoje, era formada pelos mais excluídos. Pelo menos na minha turma os rapazes mais populares ficavam na parte da frente, perto das meninas mais bonitas. Juliano e Fabiano faziam parte dessa turma. Não eram meus melhores amigos, mas  tínhamos uma  certa convivência. Nossas amizades eram mais concretas fora dos muros da escola, pois era um garoto gordo e tímido, o que não ajudava em nada na aproximação com os alunos mais populares . Existia o clube da paquera, as festas, cineminhas, etc. Eventos que nunca era convidado.
Eu e Juliano , apaixonados por música, sempre ao final do período escolar, íamos na casa um do outro para aprendermos nossos primeiros acordes no violão. E por meio da música, conseguíamos se entender. Tínhamos os mesmos ideais, os mesmos gostos musicais, mas não freqüentávamos o mesmo ambiente social. Nunca consegui me inserir em seus ambientes e como todo adolescente, também tinha a necessidade de ser notado. Fabiano era menos interessado por música,  apenas curtia cada momento, entrou como baterista da banda apenas para se  exibir.
A música me proporcionava momentos especiais, felizmente era entendido no assunto. As canções mais tocadas, informações “fresquinhas” sobre as bandas mais famosas (só pra lembra que a internet ainda estava caminhando a passos lentos no início dos anos noventa), as cifras das músicas mais tocadas, revistas relacionadas, etc. Apesar da minha timidez, era uma boa referência cultural entre os alunos.
A gincana escolar, acontecia todos os anos antes do recesso de julho, o que proporcionava um ótimo espaço para que os alunos pudessem  expressar , cada um com sua arte e/ou habilidades. Foi a primeira gincana que participei, também o momento ideal para ser reconhecido, e conseqüentemente, inserido ao grupo dos populares da escola. Ensaiamos por mais de um mês. A música escolhida foi da banda Legião Urbana – “Quando o Sol Nascer na Janela do teu quarto”, música conhecida e de fáceis acordes. Perfeita para jovens iniciantes, com 13/14 anos, como nós! Só faltava alguém para cantar. O mais desinibido era o Marcos, estudante da mesma sala que a nossa. Sua voz não era uma maravilha, mas  tinha algo que nenhum de nós possuía: atitude e beleza! Era o que bastava para um bom vocalista. Pena que esquecemos que ele também era o mais irresponsável da sala.
Ao chamado do primeiro nome para entrar no palco, que coincidentemente foi o meu, Juliano deixou o violão de lado e entrou sozinho. Cochichou ao ouvido do diretor pedindo para que deixasse a nossa apresentação para o final. O pedido foi concedido. Ganhávamos mais uns instantes para tentarmos solucionar o problema.
Sergio, um amigo de infância que se intitulava o “Roadie” da banda, pelo apoio na organização e transporte dos instrumentos, chamou nossa atenção chamando nossos nomes e confiantemente disse: - Eu canto!
Surpresos pela enorme vontade, nem questionamos. Entramos no palco tentando controlar nossos nervos e tocamos. Erramos muito durante a apresentação, mas  fomos a primeira banda da história da escola a se apresentar ao vivo em uma gincana, como pronunciou ao microfone o diretor. Nos sentimos ousados e isso foi o máximo!
 O que nos ajudou e nos emocionou  foi o apoio de toda a escola que ao perceberem nossa insegurança, cantaram em uma só voz a música inteira.
Sérgio ficou um bom tempo como vocalista da banda.
Fabiano fez a sua primeira e ultima apresentação como baterista.
Juliano me acompanhou em várias outras apresentações.
Quanto a minha popularidade? Pouco a pouco fui conquistando vários amigos e cada vez mais sendo notado por todos. Foi uma ótima oportunidade para conquistar meu espaço que a escola me proporcionou. 
Bons tempos de escola!

Texto autobiográfico escrito por Maykon de Souza


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