sábado, 26 de março de 2011

ENTRE OS MUROS DA ESCOLA



- Ei!.... Ou....Ei!!! - Grita o professor para acalmar a sala em seu primeiro dia de aula. - Acalmem-se! Você que ainda não parou! Comece tirando o capuz, fazendo o favor. Vocês dois aí atrás, há um lugar aqui. Um de vocês, aqui na frente.
- Mas há lugares aqui também, professor. - reclama um dos alunos.
- Vamos esclarecer umas coisas... continua o professor.
     Essa é uma cena rotineira em muitas escolas do nosso país, onde o professor tenta, sem sucesso, em muitas das vezes, "dominar",... entre aspas mesmo...,  uma sala de aula.  Mas esta é a cena inicial do filme francês “Entre os muros da Escola”, que diferente dos filmes americanos , que a figura professor  sempre é tratada como alguém perfeito, educado e experiente em todas as áreas da vida,  conseguindo a incrível façanha de transformar um grupo de alunos rebeldes em alunos interessados, construindo, como produto final, um grupo homogêneo onde todos aprendem ao mesmo tempo, mostra a realidade nua e crua de uma sala de aula. 
     O filme aborda  vários aspectos em cada cena,  revelando uma necessidade de  afirmação perante os alunos, por parte do professor, sempre buscando o controle da sala, ironizando cada resposta dada pelos alunos, preocupado em se afirmar como mestre do saber a cada correção realizada. Trata aspectos comportamentais, onde o respeito só aparece em “mão única”, sempre do aluno para o professor, e nunca ao contrário. Mesmo sem sucesso, o professor percebe a importância de tratar os alunos individualmente, pois as diferenças transbordam na sala de aula, mas sua falta  de habilidades para realizar tal ação se mostra mais forte. As diferenças são demonstradas como pontos cruciais para os conflitos em uma sala de aula, nos diferentes aspectos, professor-professor, aluno-aluno, professor-aluno e conflitos étnico-culturais. Mas há uma grande preocupação de se manter a hierarquia no ambiente.
- Vocês precisam saber que eu sou o professor e posso dizer algumas coisas e vocês não! - Desabafa o professor em um momento de conflito com os alunos.
- Sempre que nós falamos o professor grita! - retruca um dos alunos envolvidos.
     A ética profissional também é colocada em debate, quando o mestre da turma , ao prestar queixa de um dos alunos “bagunceiros, como se refere, relata apenas o seu lado, deixando o aluno sem direito de defesa, nas mão de um conselho que toma decisões drásticas, para com seus alunos, independente do ocorrido.
     Qual o papel do educador na sociedade? Como trabalhar e conviver com o diferente? Como combater a exclusão e o xenofobismo? Em que resulta o convívio forçado entre culturas distintas? Como agir de forma ética na profissão? Como lidar com jogos de poder e conflito? Qual o limite da liberdade? A escola consegue cumprir seu papel social? Essas e outras perguntas saltam a mente ao assistirmos esse ótimo filme, interpretados por alunos e professores da vida real, amadores, resultando em uma realidade nunca vista antes no cinema.
- Escrever sobre nossas vidas? Nós só vamos para à escola, voltamos para casa, comemos e dormimos.
     Entre os Muros da Escola vai à fundo no problema crônico do modelo escolar e dos conflitos sociais ocasionados pelos choques de cultura. O filme escapa do lugar-comum, percorrendo caminhos naturais, sem optar pelo dramático, pela redenção, pela mensagem de esperança.

Entre les Murs
França , 2008 - 128
Drama
Direção:
Laurent Cantet
Roteiro:
Robin Campillo, Laurent Cantet, François Bégaudeau
Elenco:
François Bégaudeau, Laura Baquela, Nassim Amrabt, Cherif Bounaïdja Rachedi, Juliette Demaille, Damien Gomes, Arthur Fogel, Dalla Doucoure

Texto - Maykon de Souza





Um comentário:

  1. Olá Maykon,
    Quero parabenizar você pela iniciativa! Estes registros sobre coordenação servirão muito para nossa prática reflexiva.

    Abraços!

    Francisco Sales
    atelierdeducadores.blogspot.com

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